Prêmio, El Niño, crise na Europa – entenda o que afetará os negócios e como se posicionar neste nicho que tem o Brasil como destaque na exportação
O mercado de soja convencional foi atípico em 2023. A venda foi impactada pelos valores dos prêmios e pela insegurança climática, que afetou a produção – especialmente em Mato Grosso e Goiás. Ainda assim, a projeção de especialistas é de que a produção brasileira consiga atender à demanda europeia deste ano.
A estimativa do Instituto Soja Livre (ISL), organização que reúne produtores, traders e certificadores de soja não transgênica, é de que a safra 2023/24 de soja convencional siga o mesmo caminho de 2023, com prêmios ainda baixos. César Borges, presidente do ISL, analisa que esse cenário pode levar à baixa procura por sementes convencionais pelos produtores que não se anteciparam nas vendas.
“Por outro lado, produtores que garantiram seus negócios antecipadamente podem ter perdas em função da estiagem provocada pelo El Niño, mesmo com o replantio”, observa.
Para auxiliar o produtor brasileiro de soja convencional a atender à demanda internacional, produtores de sementes investem em variedades de cultivares com alto teto produtivo e que atendem à necessidade de cada região de plantio.
Para Luiz Fiorese, proprietário da Quati Sementes, o produtor precisa se antecipar e não esperar que os valores dos prêmios tenham alteração ao longo do ano, como ocorreu em 2023. A baixa procura por sementes convencionais no início do ano passado resultou em uma diminuição de 20% da área plantada na safra 23/24.
“O mercado existe, mas este será um ano em que parcerias precisam ser firmadas e alinhadas para não haver dificuldade com a soja convencional. Como sementeiro, estou organizado. Já exportei grão para a Coreia e também direciono para outros tipos de negócios que precisam do grão convencional”, comenta Fiorese.
Para o diretor administrativo do Instituto Soja Livre, Elton Hamer, neste ano haverá uma redução na oferta tanto de sementes como de soja convencional. “Isso é cíclico. Houve redução em 2014, mas logo o prêmio aumentou bastante, porque há uma demanda, principalmente na Europa”.
Segundo dados da Donau Soja, associação europeia de apoio à produção sustentável de soja não transgênica, há uma tendência de aumento nos valores de prêmios para soja convencional na Itália e na Alemanha que teve início em julho de 2023. Os valores chegaram a uma média de 140,00 € por tonelada de farelo de soja convencional em janeiro deste ano. A expectativa é de que os valores sigam crescendo e outros países europeus sigam esse movimento.
Demanda europeia – O Brasil perdeu uma fatia considerável do mercado europeu em 2023 com a flexibilização da linha de produtos não transgênicos da rede de supermercados Carrefour. A marca deixou de rotular produtos Non-GMO, impactando a demanda por soja convencional na França e na Bélgica.
A discussão no Parlamento Europeu sobre a desregulamentação de produtos transgênicos na Europa também pode impactar outros mercados da região. Porém, grandes cadeias de supermercados se posicionaram veementemente contra a proposta.
De acordo com o consultor Fernando Nauffal, o mercado europeu de soja convencional está estável e o volume de exportação para a Europa deve continuar o mesmo neste ano, em torno de 1,700 milhões de toneladas. A única diferença poderá vir do mercado de Proteína Concentrada de Soja (SPC), devido à perspectiva de demanda maior de ração para o salmão, com o encerramento de selos de sustentabilidade para algumas variedades de peixes usados no processamento para ração.
Segundo Nauffal, a crise europeia não afetará a demanda de produtos não-transgênicos brasileiros. “O alto preço de energia na Europa privilegia o processamento da soja convencional no Brasil e a exportação dos produtos já processados. O consumo final de frango, leite e ovos, oriundos de animais que consomem farelo de soja não-OGM na alimentação, também não será impactado pela crise”.
Nauffal reforça que a oferta de soja convencional brasileira em 2024 conseguirá atender à demanda europeia. “Mesmo com uma possível quebra na safra 23/24, a produção brasileira será bem acima do que a Europa tem demandado nos últimos dois a três anos”.